ESTÁDIOS
Exemplo alemão com empresa de fora mostra como é possível
recuperar uma arena que estava às moscas numa cidade sem qualquer
time de expressão, e aponta caminhos para palcos da Copa que estão
subutilizados.
Quando
pediu à Federação Internacional de Futebol (FIFA) um número
exagerado de sedes para distribuir politicamente as eventuais
benesses da Copa do Mundo de 2014, o governo brasileiro e a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não se preocuparam muito
com eventuais problemas em praças em que o futebol não tem tanta
força, como Brasília, Cuiabá e Manaus.
Assim,
exceção feita aos jogos de grandes equipes do futebol brasileiro,
como Flamengo, Corinthians e São Paulo, se torna praticamente
impossível encher as arenas dessas cidades. E como esses times
precisam atuar em seus estádios, as visitas são cada vez mais
raras, como na presença do rubro-negro carioca em Brasília para o
duelo contra o Coxa no mês passado.
O estádio em Leipzig deixou de ser elefante branco para abrigar 30 mil |
Casos
de estádios que tiveram (muita) dificuldade em manter uma
programação pesada depois de eventos como Copa do Mundo e
Olimpíadas não são raros. Mas há quem tenha se recuperado. E, em
uma situação específica, a Alemanha tem um bom exemplo que se
assemelha, de certa forma, às condições de Brasília, com o Mané
Garrincha, e de Manaus, com a Arena Amazonas.
A
única representante da antiga Alemanha Oriental a receber partidas
do Mundial de 2006, Leipzig é uma cidade com pouco mais de 500 mil
habitantes que já não contava com clubes nas principais divisões
do campeonato nacional, como Brasília, Cuiabá e Manaus. Resultado:
a arena Zentralstadion, reformada ao custo de 90 milhões de euros,
ficou subutilizada por quase três anos após o Mundial.
CASA
CHEIA
Veja
a ascensão da média de público do time alemão criado em 2009
Se,
nesse caso, o poder público não foi de muita valia, uma
multinacional austríaca decidiu ressuscitar um clube da cidade que
disputava a quinta divisão alemã, o Markranstädt, que
posteriormente mudaria de nome. Em 2009, nascia o RB Leipzig. A nova
equipe adotou o elefante branco como casa e conquistou o que faltava
ao estádio: torcedores.
Na
temporada inaugural, o RB Leipzig levou apenas os clássicos
municipais para o estádio, rebatizado com o nome da empresa. A
partir de então, a média de torcedores cresceu de 4,2 mil para 7,5
mil por partida nas três temporadas seguintes, e em 2013/2014, a
média mais que dobrou: foi para 16,7 mil e bateu a melhor marca da
terceira divisão alemã. Na medida em que crescia, o cenário para a
concorrência traçava trajetória oposta: o Lokomotiv Leipzig foi
rebaixado à quinta divisão e o FC Sachsen Leipzig acabou dissolvido
em 2011.
Diante
da oportunidade de rever a cidade representada na elite do futebol,
os habitantes de Leipzig baixaram a guarda de vez e chegaram a
colocar 42,7 mil pessoas um jogo da Segundona.
Em
seis anos do empreendimento, o clube conta com a maior ocupação das
arquibancadas da atual temporada da “Série B” alemã, com média
de 29,8 mil nas cinco partidas disputadas.
Potencial
para crescimento em locais com economia forte
Turquia
x República Tcheca: vitória dos turcos virou drama para a Holanda
Milan Kammermayer/AFP Passado pouco mais de um ano da Copa do Mundo
do Brasil, o país arca com a dificuldade de equilibrar as contas das
arenas construídas para o evento: dos 12 estádios que receberam
partidas, oito tiveram prejuízo com manutenção em 2014, incluindo
o Estádio Nacional Mané Garrincha. Algumas sedes, como Brasília,
enfrentam problema ainda mais grave: os times locais acham caro jogar
no Mané. Neste ano, o local recebeu 10 jogos. Deles, apenas quatro
tiveram os candangos como mandantes — os outros seis foram trazidos
por equipes de outros estados.
"Fantástico"
Mesmo
se os custos com aluguel e demais serviços de uso da arena não
fossem tão salgados, os clubes do Distrito Federal já não disputam
competição alguma, a três meses do fim do ano. O Brasília, que
mais tempo resistiu na temporada, encerrou o calendário na
quarta-feira passada, diante de 6.579 pessoas no Mané Garrincha,
quando foi eliminado pelo Atlético-PR da Copa Sul-Americana.
Fato
curioso que o doutor em gestão do esporte Paulo Henrique Azevêdo
aponta como um dos atrativos para um potencial investidor em um clube
da cidade. “Ter colocado mais de 6 mil pessoas em um jogo às 22h
no meio da semana é fantástico para um time que não disputa
divisão alguma”, ressalta o também coordenador do laboratório de
pesquisa Gesporte. Segundo ele, Brasília tem um mercado com
capacidade de angariar recursos financeiros com maior facilidade do
que em outros centros que vivem situação semelhante, como Manaus e
Cuiabá.
"É
um modelo aplicado a qualquer contexto, basta que um forte player do
mercado tenha como objetivo entrar no futebol a partir de uma região
potencialmente atrativa para os seus negócios", explica Eduardo
Esteves, especialista em gestão e marketing esportivo.
Correio
Braziliense • Brasília, quarta-feira, 11 de outubro de 2015 •
Superesportes • Jornalista Maíra Nunes
Um comentário:
Concordo planamente com o Prof. Dr. Paulo Henrique Azevêdo e com Eduardo Esteves, especialista em gestão e marketing esportivo, o único senão é que, culturalmente, grande parte das empresas brasileiras são por demais imediatistas ou utilizam o esporte na perspectiva utilitarista. Exemplo disso é o que aconteceu em diversas oportunidades com o voleibol: apoiava se uma equipe numa determinada temporada para lançar algum produto e em seguida tirava o investimento, deixando os jogadores inseguros, com futuro incerto ou a mercê de uma outra empresa aventureira. Acredito que o momento que vivemos seja de oportunidades e o esporte, não como pão e circo, mas como um projeto de desenvolvimento humano, pode, utilizando se do marketing social proporcionar, para quem se atrever, numa empreitada nessas Arenas ociosas, resultados interessantes.("Tudo é ousado para quem a nada se atreve".Fernando Pessoa) Entendo a insegurança que esse momento também gera, mas vamos ser otimistas, rs rs. Saudações lúdicas, Edinho Paraguassu
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