POLÍTICA
Das 30 confederações olímpicas do país, apenas oito são
presididas por ex-competidores. Explicação passa por falta de
qualificação, perpetuação de dirigentes nos cargos e esquemas de
apoio entre entidades
Coaracy Nunes Filho está à frente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos há 27 anos: gestões intermináveis são um dos problemas |
No
esporte, plano de carreira de atletas não aparece como prática
comum. Prova disso é que das 30 confederações olímpicas do Brasil
apenas oito são presididas por ex-competidores, ou seja, 73% dos
profissionais que ocupam cargo de mandatário tiveram uma realidade
diferente daquela de treinamentos diários, cotidiano de viagens e de
provas. Em junho, o craque Zico, ao anunciar a vontade de se
candidatar à Fifa, afirmou que o futebol no país sofre pela falta
de representatividade entre jogadores. Ele salientou que é mais
fácil pleitear a direção da Fifa do que a da CBF, devido a
esquemas de apoio político entre confederações.
As
entidades brasileiras comandadas por ex-atletas são aquelas que,
historicamente, sofrem com patrocínios escassos, como ciclismo,
esgrima, remo, rúgbi, tae kwon do. Já nas instituições de
modalidades mais populares, como futebol, basquete e natação, a
ausência de ex-competidores é explícita. Na linha de frente delas,
estão dirigentes que sequer tiveram contato com o esporte na
prática. Apenas em 2014, o Comitê Olímpico do Brasil decidiu mudar
a forma como distribuía os recursos provenientes da Lei Agnelo/Piva,
a fim de equalizar o destino dos 2% ganhos do faturamento de
loterias.
Em
levantamento feito pelo Correio, foram identificadas outras duas
barreiras no caminho de ex-atletas para chegar ao cargo máximo das
entidades. A primeira está relacionada à formação acadêmica, que
predomina em 27 dos 30 currículos presidenciais. Embora não seja um
pré-requisito institucional para lançar uma candidatura, no momento
de eleição, o fator mostra-se determinante. Atualmente, para cada
10 profissionais nomeados à função, apenas um não tem nenhuma
graduação.
A
segunda diz respeito à duração das gestões. Com base nos dados
apurados, o tempo médio de cada mandato é de 10,26 anos. A
Confederação Brasileira de Canoagem tem João Tomasini Schwertner
como presidente desde a fundação, há 28 anos. O segundo com maior
tempo no cargo é Coaracy Nunes Filho, há 27 anos à frente da
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.
No
contexto nacional de formação de competidores, a ausência de
recursos e incentivos que permitam a conciliação entre o esporte e
a faculdade é histórica. “Antigamente, os nossos atletas tinham
uma formação e um nível acadêmico aquém das exigências para
questões administrativas. Isso foi preservado”, explica o
professor Paulo Henrique Azevêdo, fundador da Associação
Brasileira de Gestão do Esporte (AbraGEsp). Outra barreira
identificada por ele está relacionada com apoios na transferência
de cargos. Cita o exemplo de João Havelange, que, após encerrar o
mandato na CBF, conseguiu eleger o então genro Ricardo Teixeira.
Conhecimento
Dos
seis dirigentes que foram atletas profissionais, apenas Carlos
Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Tae kwon do,
não tem curso superior, mas conta ter adquirido experiência em
administração de eventos enquanto era lutador. Ele admite que a
condução da entidade depende do conhecimento em gestão.
Na
visão do ex-remador Edson Altino Pereira Júnior, presidente da
confederação brasileira da modalidade e formado em administração,
o atleta nunca teve tanto apoio na história do país quanto
atualmente. Por isso, não pode culpar a falta de financiamento pela
não qualificação.
Presidente
da Confederação Brasileira de Ciclismo, José Luiz Vasconcellos,
ex-competidor da modalidade e formado em educação física,
ressalta: “Na minha época, eles mesmos (atletas) falavam que
queriam fazer outras coisas (quando encerrassem carreira)”.
Correio
Braziliense • Brasília, segunda-feira, 24 de agosto de 2015 •
Superesportes • p. 6
Um comentário:
Parabenizamos a GESPORTE, Paulo Henrique e Equipe pela veiculação desta matéria interessante em que nos mostra a realidade da GESTÃO ESPORTIVA neste país e aproveitamos para convidar a COMUNIDADE ESPORTIVA BRASILEIRA para os dias 27 e 28 de novembro para o CIGESP, no Estadio do Maracanã no Rio de Janeiro, na cidade Olímpica. Estaremos lá com o RICARDO e demais integrantes da Comissão Organizadora
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