quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Quem realmente lucra com a Copa?

O jornalista José Cruz e o professor Paulo Henrique Azevêdo deram suas contribuições sobre o tema.
No dia 31 de janeiro de 2013, o coordenador do Laboratório GESPORTE, Paulo Henrique Azevêdo, participou do programa “Participação Popular” da TV Câmara, que contou com a presença do jornalista esportivo José Cruz, participação do jornalista Juca Kfouri e do Deputado Otávio Leite do PSDB-RJ. O público interagiu ao vivo, direto de Fortaleza-CE e também pelo site e pelo twitter.
O programa é apresentado pelo jornalista Fabricio Rocha e dirigido por Iroã Simões. O “Participação Popular” é caracterizado por sua imparcialidade, pela discussão de temas relevantes para a sociedade e pela qualidade com que é realizado por toda a equipe da TV Câmara.
Set de gravação do programa "Participação Popular".
O tema do programa foi “Quem realmente lucra com a Copa?”, e durante uma hora, o debate entre os especialistas entrevistados e a opinião popular levantou pontos muito importantes sobre os investimentos e retornos da Copa do Mundo.
A discussão começou embasada na Lei Geral da Copa e a relação desta com a satisfação dos interesses brasileiros. Sobre o assunto, Paulo Henrique Azevêdo - pesquisador sobre gestão do esporte - lembrou que o Brasil se voluntariou para sediar o megaevento e ao assumir este compromisso aceitou automaticamente as regras da proprietária do evento, a Federação Internacional de Futebol – FIFA. Lembrou ainda que todos os países tem que fazer concessões e adequar-se para a realização do evento. Foi assim na Copa da Alemanha em 2006 e na Copa da África do Sul em 2010 e o diferencial é o quanto cada país cede às exigências da FIFA, e neste caso, o Brasil tem cedido mais que Alemanha, mas bem menos que a África do Sul. A Copa do Mundo é um grande negócio para a FIFA e ela visa o lucro, não um retorno social, o retorno social é papel do governo do país sede. Para o Brasil a Copa pode ser um grande negócio também, mas para isso é preciso um bom planejamento e até o momento não é o que temos percebido aqui, disse Paulo Henrique. 
Prof. Dr. Paulo Henrique Azevêdo em sua participação no programa da TV Câmara.

Sobre a questão do planejamento, o jornalista José Cruz afirma que, apesar de todo o dinheiro gasto, ainda faltam recursos para conclusão das obras do Estádio Nacional de Brasília e que a organização local tem se mostrado extremamente amadora. Não há uma perspectiva de aproveitamento das instalações no pós-copa e a matriz de responsabilidades elaborada pelo governo Lula contendo 3 ciclos, está com 2 ciclos atrasados, saindo do papel apenas neste ano. Dos valores previstos para investimento em infraestrutura urbana para as cidades sede já houve uma redução de 3,3 bilhões de reais. Aí se encontra o prejuízo social, pois estes valores sofrem reduções drásticas, enquanto os valores aplicados nas construções dos estádios aumentam continuamente.
A população participou ao vivo
Além das participações de Paulo Henrique Azevêdo e José Cruz, presentes no estúdio, o programa contou com a opinião popular ouvida numa praça no centro de Fortaleza, uma das cidades que receberá jogos da Copa.
Muitos manifestaram pessimismo sobre a possibilidade de ganhos para a sociedade brasileira com a realização da Copa.
O apresentador Fabricio Rocha e seus convidados.
Juca Kfouri se posicionou sobre o tema
Outra importante participação foi a do jornalista Juca Kfouri, que falou diretamente de São Paulo, por telefone. Juca citou o Professor Paulo Henrique Azevêdo e concordou que no momento em que o Brasil se candidatou para receber a Copa do Mundo estava ciente das exigências feitas pela FIFA e afirmou ainda que reclamar agora “é chorar sobre o leite derramado”. Sobre o planejamento, Juca disse que os custos aumentados são fruto do imediatismo, das medidas de urgência que tem que ser tomadas exatamente por conta da falta de um planejamento melhor, ou de uma execução mais eficiente do que foi planejado.
De forma bastante clara e aberta, Juca manifesta sua opinião sobre os retornos de uma Copa do Mundo para o país sede e cita para isso um jornalista do Financial Times que disse “Copa do Mundo nunca trouxe lucro para país algum, o que se tem é a oportunidade de fazer um grande anúncio do país, durante um mês, mas esse anúncio é arriscado, dependendo do êxito do evento e da organização do país, podendo divulgar também os seus problemas. Nosso desafio é fazer um bom anúncio e o perigo é o que nos restará deste evento". 
O desafio do Brasil: planejar e realizar com competência
Fazendo uma breve análise sobre Copa e sustentabilidade ambiental, José Cruz lembrou que mesmo os estádios que possuem modernos sistemas de captação de energia solar devem ter dois geradores de energia, por exigência da FIFA. Esse planejamento deve ser feito em conjunto, o comitê organizador do país e a FIFA.
A Copa do Mundo é realmente um evento comercial muito valioso para a FIFA. A isenção de impostos, o trabalho voluntário, as regras específicas de comércio, tudo potencializa os lucros da FIFA. José Cruz afirmou que o Ministério do Esporte deveria ser um órgão dedicado à promoção de políticas públicas utilizando o esporte, mas está altamente relacionada ao futebol profissional, inclusive injetando recursos financeiros. O jornalista comentou a entrevista dada pelo Ministro do Esporte Aldo Rebelo à revista Veja, onde afirmou que “os jogos da Copa não são para o torcedor comum”, falando em relação aos custos dos ingressos.
O Jornalista José Cruz, o Prof. Dr. Paulo Henrique Azevêdo e o apresentador do "Participação Popular", Fabrício Rocha.
Sobre as exigências da FIFA e os preços dos ingressos, Paulo Henrique falou que os detentores desses eventos fazem exigência para garantir a excelência do evento, acreditando que estão oferecendo ao país sede uma grande oportunidade de lucrar também, considerando a grandiosidade desses espetáculos. O Professor lembrou que na Europa as arenas esportivas são ocupadas em 70% do tempo por atividades não esportivas e que essas arenas, denominadas de multiuso, foram projetadas para isso e que elas geram lucro e são muito bem aproveitadas. Disse, ainda, que a Copa do Mundo é um espetáculo de proporções enormes e que não é nesse tipo de competição que vamos nos beneficiar enquanto cidadãos comuns, mas podemos nos beneficiar do que este espetáculo gerará, se bem planejado e executado.
Sobre a manutenção anual das arenas esportivas no Brasil, José Cruz levou dados do SINAENCO – Sindicato da Arquitetura e da Engenharia, mostrando que o valor necessário para manter esses estádios é de 10% o valor da obra. No caso do Estádio Nacional de Brasília, que custará 1 bilhão e 200 milhões de reais, o valor anual para mantê-lo eve ser 120 milhões de reais. Esses custos já começam a preocupar os governos locais.
José Cruz e Paulo Henrique Azevêdo.
Deputado Otávio Leite opinou
O Deputado  Otávio Leitedo PSDB do Rio de Janeiro, que participou da elaboração da Lei Geral da Copa, trouxe para o debate a questão do direcionamento dos recursos. Citou como exemplo o caso do estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, que na opinião dele não precisaria ser reconstruído e que bastariam algumas alterações na estrutura, o que reduziria os custos de quase 1 bilhão de reais para no máximo 200 milhões e o restante do valor poderia ser aplicado em obras de infraestrutura e mobilidade urbana. Para o Deputado é preciso utilizar a copa para fidelizar o turista e trazê-los para gastar dinheiro no Brasil. Dados mostram que o brasileiro gastou, em 2012, 20 bilhões no exterior, enquanto os turistas que vieram ao Brasil gastaram apenas 6 bilhões, o que gera um deficit na balança comercial por conta desse turismo negativo. A Copa pode ajudar a reverter essa situação.
Otávio Leite concorda que grande parte dos problemas orçamentários são causados pelos contratos emergenciais firmados para garantir a conclusão das obras.
O programa atingiu os seus objetivos
A participação do público via internet também foi fundamental para a qualidade do debate. Um dos participantes comentou que “país que quer ser grande tem que começar a aceitar grandes responsabilidades”.
Abordando outro tópico da discussão, sobre o fator segurança, o professor Paulo Henrique afirmou que este é reconhecido como um dos pontos fortes do Brasil na organização da Copa.
Concluindo, Paulo Henrique Azevêdo lembrou outros pontos positivos da realização da copa, como a profissionalização do mercado do futebol no Brasil, o aumento da visibilidade e consequentemente do valor de venda da transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol para a televisão e também na geração de empregos com o crescimento desse mercado. As possibilidades de vantagens geradas pela realização da Copa de 2014 no Brasil existem, mas precisam ser mapeadas e é preciso um planejamento profissional para o aproveitamento dessas oportunidades, coisa que não se percebe atualmente, faltando menos de 500 dias para a realização do megaevento. 
José Cruz, Paulo Henrique Azevêdo, Fabricio Rocha e Iroã Simões, ao final do "Participação Popular".

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