quinta-feira, 19 de março de 2009

Copa do Mundo de 2014 no Brasil: avanço ou retrocesso?

Agora já não há mais como recuar, o Brasil será sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Após sessenta e quatro anos, o nosso país receberá novamente o mais prestigiado evento da Terra. E por que não há como declinar desse gigantesco compromisso assumido? Inicialmente, por se tratar de um encargo formal assumido perante todas as nações do planeta. Não nos esqueçamos que a FIFA, instituição que administra o futebol no mundo, reúne mais países participantes do que a ONU. Depois, com a crise mundial, quem se arriscaria a assumir essa incumbência, faltando pouco mais de cinco anos para a sua realização? Outro ponto importante é que os veículos de comunicação tem, ao longo dos anos, questionado a exclusão do continente sulamericano na realização de copas do mundo de futebol e se completarão trinta e seis anos entre a última – que foi realizada na Argentina, em 1978 – e a que será realizada no Brasil, em 2014.

Temos observado uma série enorme de posicionamentos sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil, muitos contrários e outros tantos favoráveis, o que nos conduz a algumas reflexões.
Existem os que argumentam contra a realização desse evento. Muitas vezes, os críticos à realização desse projeto são balizados por questionamento quanto à provável malversação dos recursos públicos a serem utilizados e não acreditam na retórica apresentada por dirigente de entidade esportiva, de que maciço volume de recursos financeiros virá da iniciativa privada. Por vezes outras pessoas assumem posicionamentos político-ideológicos, advertindo que os governos utilizam essas ações populares como mecanismo de fortalecimento da máquina governamental objetivando a perenização no poder. Há os que alegam que o investimento direto dos recursos em ações sociais traria muito mais benefícios à sociedade, minimizando o estado de penúria por que passa boa parte dos brasileiros. Isso dentre outras tantas ponderações.

Por outro lado, há os que defendem veementemente a presença desse evento em nosso país e dizem que a mera indicação do país como sede da Copa de 2014 já atrai favoravelmente a atenção das pessoas para o Brasil. Defendem que a captação de recursos externos em atividades permanentes será significativamente ampliada, com benefícios estruturais e sociais de grande monta. Mencionam que as obras a serem realizadas trarão empregos para uma grande massa de trabalhadores e que, além da construção civil, o turismo será definitivamente consolidado como relevante agente captador de recursos para a economia do país, com qualificação de mão-de-obra, adequação de instalações e oferta de um produto atrativo e diferenciado. Citam que uma parte da população investirá em boa educação para melhor interagir com os visitantes que aqui chegarem. Afirmam que ocorrerá uma sensível melhora no saneamento básico e no transporte, mormente nas cidades-sede da competição e em suas regiões metropolitanas. Argumentam que, com vistas a melhorar a imagem do país e para aumentar o número de pessoas dispostas a conhecer o Brasil, será realizado um expressivo investimento recursos humanos, tecnológicos e financeiros na segurança pública, cuja redução de criminalidade se refletirá também após o evento. Os mais ligados ao futebol e crédulos em uma onda de moralidade e capacitação dos dirigentes para cumprirem com competência os seus papéis, ressaltam que ocorrerá uma grande melhora na gestão das entidades e dos clubes esportivos, com reflexos que se farão sentir antes, durante e após a Copa do Mundo de 2014. Por fim, advogam que o espírito do trabalho voluntário (o chamado voluntariado) – típico desses eventos – contaminará os brasileiros de uma maneira geral, com reflexos na posterior prestação de serviços a creches, asilos, casas de repouso e outras iniciativas de cunho social.

Neste momento, o que importa realmente é que a Copa do Mundo de 2014 dificilmente deixará de ser realizada em nosso país e o que devemos fazer é nos preparar – da melhor maneira possível – para desempenhar o nosso papel. Desempenhar o nosso papel significa desenvolver e ampliar as competências necessárias para transformar esse grande evento em um poderoso instrumento de desenvolvimento social, tecnológico e financeiro e, também, estar atento para exercer o direito cidadão de exigir o melhor para o nosso país.

Paulo Henrique Azevêdo
Faculdade de Educação Física - FEF
Universidade de Brasília - UnB

Publicado no site da Universidade de Brasília, Secretaria de Comunicação Social, em http://www.secom.unb.br/, no dia 18 de março de 2009.

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