CONTAGEM
REGRESSIVA
Segundo
especialistas, o comitê russo precisa ter cuidado para que problemas
internos não tirem o brilho do evento
Joseph Blatter faz a entrega simbólica da Copa do Mundo para o presidente Vladimir Putin. Russos prometem fazer o Mundial mais caro da história. |
A
euforia russa de recepcionar a sua primeira Copa deve trazer à tona
toda a polêmica que envolve a organização do maior evento
esportivo internacional. Com um futebol atualmente inexpressivo, a
julgar pela fraca atuação da seleção no último Mundial, a Rússia
promete superar o desempenho nos gramados
realizando o torneio mais caro da história. Segundo o premiê Dmitry
Medvedev, os gastos podem chegar a US$ 20 bilhões muito embora
críticos acreditem que o valor possa crescer exponencialmente.
O
espetáculo esportivo sediado em 11 cidades escolhidas
estrategicamente é visto pelos especialistas como uma oportunidade
de o presidente Vladimir Putin mostrar para o mundo o
desenvolvimento russo e a superioridade tecnológica do país. "Putin
usará o esporte como uma máquina de divulgação de seus ideais e
em benefício de toda a estrutura que eles criaram no país",
avaliou o coordenador do Laboratório de Pesquisa sobre Gestão do
Esporte da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Henrique Azevêdo.
Fora
de campo, o líder do Kremlin precisa ter cuidado para que sua
conduta política e os problemas internos do país não tirem o
brilho do evento como ocorreu em Sochi, por exemplo. Os Jogos
Olímpicos de Inverno revelaram casos de corrupção, nepotismo e
superfaturamento na Rússia, além de ter ressaltado o histórico
ponto fraco do país em termos de democracia e direitos dos
homossexuais.
O
mestrando em Ciência Política pela Escola Superior de Economia de
Moscou, Vicente Ferraro, acredita que um dos principais desafios da
Rússia na preparação para o Mundial é a necessidade de se
combater a corrupção e desburocratizar a administração pública a
fim de diminuir os gastos com o evento e maximizar a eficiência da
organização. Do ponto de vista social, ele também alerta para a
importância de se coibir o racismo promovido por grupos minoritários
e a atuação de grupos separatistas e extremistas religiosos. "Seria
um verdadeiro escândalo em plena Copa do Mundo alguém jogar uma
banana no campo. A Rússia deve combater o racismo de maneira mais
atuante. Um eventual atentado terrorista poderia minar a realização
do jogo", considerou.
De
fato, a ameaça de terrorismo durante a competição preocupa o
comitê russo. Por causa disso, não haverá jogos nas localidades do
Cáucaso, no norte da Chechênia e Daguestão, regiões que são foco
da insurgência islâmica.
Crise ucraniana
Ainda segundo Ferraro, as tensões atuais da Rússia com a Ucrânia poderão prejudicar a realização da Copa do Mundo caso o Ocidente decida boicotá-la. "Se houver novamente alguma intervenção russa no espaço pós-soviético, um boicote de seleções europeias será bem provável. Mas Putin é um bom estrategista e sabe calcular os limites e as consequências de suas ações", observou o especialista.
Ainda segundo Ferraro, as tensões atuais da Rússia com a Ucrânia poderão prejudicar a realização da Copa do Mundo caso o Ocidente decida boicotá-la. "Se houver novamente alguma intervenção russa no espaço pós-soviético, um boicote de seleções europeias será bem provável. Mas Putin é um bom estrategista e sabe calcular os limites e as consequências de suas ações", observou o especialista.
Sobre
a possibilidade de protestos contra a conduta do presidente russo, os
especialistas acreditam que, mesmo que ocorram, as manifestações
não vão ofuscar o brilho do evento no país. "Há fortes
possibilidades de que ocorram movimentos de protestos em relação à
Copa, como houve no Brasil. Provavelmente, não afetarão o andamento
da competição devido às medidas de segurança tomadas, mas podem
movimentar o jogo político interno do país", avaliou o
professor de História da Universidade de São Paulo e autor do livro
"Os Russos", Angelo Segrillo.
Experiência
O historiador acredita que a Rússia conta com uma boa base para realizar estes tipos de eventos, pois é herdeira da União Soviética, que era uma superpotência também no campo esportivo. "Como herdeiros da União Soviética, uma economia planejada, os russos costumam ser bons nessa coisa de planejamento e cumprimento de prazos", opinou.
O historiador acredita que a Rússia conta com uma boa base para realizar estes tipos de eventos, pois é herdeira da União Soviética, que era uma superpotência também no campo esportivo. "Como herdeiros da União Soviética, uma economia planejada, os russos costumam ser bons nessa coisa de planejamento e cumprimento de prazos", opinou.
Tradição russa ajudará na organização do Mundial
O comitê russo afirmou que quer aprender com os erros do Brasil a fim de evitar equívocos e críticas sobre a organização do Mundial de 2018. Apesar de boa parte das 12 arenas que vão sediar os jogos ainda estarem em construção, a ordem é que todas fiquem prontas até 2017, quando será disputado o eventoteste Copa das Confederações.
O comitê russo afirmou que quer aprender com os erros do Brasil a fim de evitar equívocos e críticas sobre a organização do Mundial de 2018. Apesar de boa parte das 12 arenas que vão sediar os jogos ainda estarem em construção, a ordem é que todas fiquem prontas até 2017, quando será disputado o eventoteste Copa das Confederações.
O
coordenador do Laboratório de Pesquisa sobre Gestão do Esporte da
UnB, Paulo Henrique Azevêdo, avalia como um ponto a favor do comitê
russo na corrida contra o tempo o privilégio de o país já possuir
uma estrutura herdada de outros eventos esportivos. O Estádio
Olímpico de Fisht, em Sochi, recebeu as cerimônias de abertura e
encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro, e a Arena
Kazan sediou a Universíade, em 2013. "Os russos já vêm se
preparando algum tempo para a Copa. Ao contrário do Brasil, que
praticamente teve de construir 12 estádios do zero, a Rússia parte
com uma estrutura já montada", avaliou Azevêdo.
Para
facilitar os deslocamentos, o governo deve implantar vias férreas de
alta velocidade, tarefa que poderia contar com a ajuda de outros
países como Alemanha e Espanha, que possuem tecnologia avançada
nesse setor. Azevêdo acredita que a medida vai contribuir para uma
maior participação dos europeus no evento.
"No
que diz respeito à organização, os russos não terão problema
algum, já que têm tradição de realizar eventos de grande porte.
Do ponto de vista de infraestrutura, não há muito o que ser
construído eles dispõem de excelente rede ferroviária e
aeroviária. Melhorias podem ser feitas, é claro, mas não seria tão
impactante quanto teria sido no Brasil", avaliou o cientista
político Matheus Passos.
Fim da 'russofobia'
O governo russo também pretende importar a atmosfera do Brasil em 2018. Para os especialistas, o investimento na hospitalidade é uma boa oportunidade de melhorar a imagem do país diante do mundo e pôr fim à "russofobia", rompendo tabus e estereótipos.
O governo russo também pretende importar a atmosfera do Brasil em 2018. Para os especialistas, o investimento na hospitalidade é uma boa oportunidade de melhorar a imagem do país diante do mundo e pôr fim à "russofobia", rompendo tabus e estereótipos.
Um
exemplo positivo seria preparar o povo para uma receptividade cordial
como a do brasileiro durante", disse o historiador Angelo
Segrillo.
"Os
russos têm um senso de centralidade muito grande, que, muitas vezes,
faz com que não se relacionem bem com estrangeiros. Assim, creio que
essa abertura a novas formas de ver o mundo será o principal legado
social", acrescentou o cientista político Matheus Passos.
Diferenças culturais não serão barreira
Os russos sabem organizar um espetáculo esportivo e, apesar da crença popular, a Copa de 2018 não será um evento frio. Segundo os especialistas, fatores como o idioma, o clima e o próprio comportamento do povo não devem comprometer o brilho do evento. "Em termos de distâncias, o Brasil foi um exemplo de que esse fator não impede o torcedor de prestigiar sua seleção nacional. Em relação ao clima, a Copa ocorrerá em junho e julho, época do verão", explicou o cientista político Matheus Passos. A cearense Flavia Cunha, que mora em Kursk, a 500 km de Moscou, diz que a comunicação com os russos ainda é um pouco difícil por conta do idioma. Ela recomenda que os torcedores pratiquem o inglês, já que os russos têm um conhecimento razoável desta língua. Quanto ao povo, a estudante de medicina é só elogios: "uma vez que se tornam amigos, são companheiros leais e solícitos para sempre".
Os russos sabem organizar um espetáculo esportivo e, apesar da crença popular, a Copa de 2018 não será um evento frio. Segundo os especialistas, fatores como o idioma, o clima e o próprio comportamento do povo não devem comprometer o brilho do evento. "Em termos de distâncias, o Brasil foi um exemplo de que esse fator não impede o torcedor de prestigiar sua seleção nacional. Em relação ao clima, a Copa ocorrerá em junho e julho, época do verão", explicou o cientista político Matheus Passos. A cearense Flavia Cunha, que mora em Kursk, a 500 km de Moscou, diz que a comunicação com os russos ainda é um pouco difícil por conta do idioma. Ela recomenda que os torcedores pratiquem o inglês, já que os russos têm um conhecimento razoável desta língua. Quanto ao povo, a estudante de medicina é só elogios: "uma vez que se tornam amigos, são companheiros leais e solícitos para sempre".
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